Palavras-chaves: cânhamo, cânhamo industrial, hemp, cannabis, fibras, sustentabilidade, meio ambiente, efeito estufa, aquecimento global
Segundo o relatório divulgado em agosto de 2021 pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), a temperatura média do planeta subiu 1,1 grau desde a segunda metade do século XIX e, no melhor dos cenários, em que há baixa emissão de gases de efeito estufa e CO2, deve chegar em 1,5 grau nos próximos 20 anos.
Essa projeção carrega uma série de consequências – algumas já evidentes nos dias de hoje com a temperatura atual. Um maior aquecimento do planeta acarreta um clima desregulado e, portanto, em mais eventos adversos, como secas, enchentes, ondas de calor e mesmo de frio. Esses acontecimentos extremos podem prejudicar a saúde humana e animal, construções, produção de alimentos e mais.
Para frear esse aumento de temperatura e as mudanças climáticas no geral, portanto, é necessário interromper sua causa, sendo ela a alta emissão de gases de efeito estufa e CO2 ocasionada pela queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral, gás natural etc.), desmatamento, agricultura convencional, entre outros.
O desmatamento está especialmente associado às atividades agropecuárias para fins comerciais e aos avanços da urbanização. Segundo um relatório divulgado pela Forest Trends em 2021, mais de dois terços das florestas do mundo foram destruídas de forma ilegal para a produção de carne bovina, soja e óleo de palma – de 26 países tropicais estudados, o Brasil e a Indonésia foram os países que mais desmataram.
Isso não significa que o agronegócio precisa ou vai parar de existir com o desenvolvimento de políticas mais sustentáveis, mas, sim, é necessário repensar e diversificar a base agrícola exatamente para que esse setor siga com alta produtividade e lucro. Afinal, as mudanças climáticas podem causar longas secas e perda da biodiversidade, ambos fatores que, até 2050, podem gerar prejuízo de até R$5,7 bilhões por ano para o agronegócio brasileiro, de acordo com o artigo publicado na revista científica Nature Communications em maio de 2021. Vale lembrar que o agronegócio representa mais de 20% do PIB brasileiro, ou seja, é um motor essencial para a economia.
Uma das formas de suprir essa demanda por bases agrícolas mais sustentáveis no país poderia ser a partir da produção do cânhamo. A planta necessita de pouca água para seu cultivo – 1 kg de cânhamo utiliza de 300 a 500 litros de água, enquanto 1 kg de algodão, 10 mil litros – e de quase nenhum pesticida, fungicida ou herbicida para se desenvolver bem, já que resiste às pragas em um nível acima da média. Ainda, não requer uma grande área de cultivo, podendo cada planta crescer em uma distância de 10 a 15 cm entre si, além de render por volta de três safras ao ano, por conta de seu ciclo de produção curto.
Ademais, na medida em que o cânhamo reduz a necessidade de colheita de árvores para materiais de construção, papel ou outros produtos, a sua utilização como substituto da madeira tende a contribuir para a preservação das florestas. O cânhamo também pode melhorar a gestão florestal, respondendo à procura de fibra a curto prazo, enquanto as árvores precisam crescer durante muitos anos para atingirem a sua maturação ideal. Em áreas onde a floresta natural está esgotada, as culturas anuais, como a cannabis, podem ser fontes eficientes de fibras agrícolas para substituir os produtos florestais e, portanto, preservar as árvores (Montford e Small 1999; Small 2012). Nos países em desenvolvimento, onde a madeira está a tornar-se cada vez mais escassa e a segurança alimentar é uma preocupação, a introdução de uma cultura de dupla finalidade, como o cânhamo, para satisfazer as necessidades de alimentação, abrigo e combustível pode contribuir significativamente para a preservação da biodiversidade.
O cânhamo também tem capacidade de desenvolvimento em diversos tipos de solo e climas, e, inclusive, devolve nutrientes às superfícies onde são cultivados e tem raízes que preservam o solo superficial e subsolo (onde, normalmente, encontram-se as riquezas minerais). Além disso, sua produção, em geral, é carbono negativa, ou seja, absorve mais carbono da atmosfera do que a emissão causada durante a colheita, processamento e transporte. Todas essas características sustentáveis do cultivo de cânhamo são determinantes para o investimento de países, fundos e empreendedores estrangeiros no Brasil.
Em 2018, o governo do Paraguai introduziu o cultivo do cânhamo para fins industriais e, três anos depois, iniciou a exportação de alguns tipos de produtos. Ainda, em 2021, incentivou o plantio de 100.000 hectares da planta para absorver todas as emissões de gases de efeito estufa que são produzidos em território paraguaio durante o período de um ano, tornando-se o primeiro país com neutralidade de carbono do mundo.
Diante das mudanças climáticas e suas consequências, fica cada vez mais evidente que precisamos transformar a nossa relação com a natureza, os animais, o alimento, os meios de transporte, a urbanização e todas as outras práticas que tocam, direta ou indiretamente, o equilíbrio do nosso planeta.
O cânhamo, subespécie da Cannabis sativa, faz parte da humanidade há milênios e, como matéria-prima, esteve presente em diversos momentos históricos importantes. Apesar da proibição, resistiu como um cultivar tradicional em alguns países por conta de todos os seus benefícios e, hoje, vem sendo reinserido na agricultura de outras nações pelo mesmo motivo. Uma de suas principais vantagens é o fato de que tem impactos positivos no meio ambiente.
O cânhamo é uma planta extremamente versátil que pode gerar inúmeros insumos, podendo ter seu cultivo incorporado por produtores de todos os tipos e tamanhos. Esse cenário já tem se concretizado em países de diferentes continentes com regulamentação e, mesmo com os desafios que também enfrentaram, não houve dúvidas do enorme potencial econômico, social e ambiental do cânhamo. Por outro lado, nós ainda esperamos ver isso se replicar em território brasileiro.
Para saber mais sobre as possibilidades para o cultivo de cânhamo industrial no território nacional, não deixe de adquirir o relatório CANNABIS MEDICINAL E INDUSTRIAL NO BRASIL: potencial para cultivo produzido pela ADWA Cannabis.
REFERÊNCIAS
Relatório Cânhamo no Brasil, 2022, Kaya Mind.
Small, Ernest. Cannabis: a complete guide. Boca Raton: Taylor & Francis, 2017