Palavras-chaves: cânhamo, cânhamo industrial, hemp, cannabis, fibras, têxtil, sustentabilidade
O cânhamo (hemp) é um quimiotipo do gênero Cannabis sativa que é cultivado com a finalidade de produção de fibras e sementes. Diferente da Cannabis, cultivada para fins medicinais, a planta de cânhamo possui baixo teor de THC (0,3 % máx.) e não gera efeitos psicoativos.
Em relação aos seus usos, o cânhamo é extremamente versátil, podendo ser utilizado na fabricação de milhares de produtos e, principalmente, na indústria da celulose e papel, na construção civil e no setor têxtil. Neste texto, abordaremos, especialmente, o potencial desta planta para a produção de tecidos, fazendo um breve comparativo e demonstrando os seus benefícios em relação ao algodão e ao poliéster, que são as fibras mais utilizadas, atualmente, neste setor.
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A história do cânhamo sempre teve ligação com o mercado têxtil, havendo evidências das primeiras aplicações têxteis do cânhamo por volta de 207 A.C; exploradas principalmente pelas culturas chinesas e indianas (PIOVEZANI BERTOLUCCI et al., s.d.). Atualmente, países como a China, EUA, Canadá, e União Europeia são os grandes produtores mundiais de cânhamo industrial. Nossos vizinhos sul americanos, Uruguai, Colômbia, Paraguai e Argentina já regulamentaram o cultivo e caminham, a passos largos, para se juntarem a esses grandes players mundiais. Já o Brasil, com seu grande potencial para o Agronegócio, não poderia ficar para trás.
Para o cultivo de fibras, o território brasileiro possui entre 80% e 95% de áreas com aptidão entre boa e ótima. Para o cultivo de flores, este percentual foi superior a 80% e, para o cultivo de sementes, superior a 70%. (ROCHA, 2018).
Com a possibilidade da aprovação do PL 399/15 se pavimentando, e a regulamentação do cultivo de Cannabis sativa para fins medicinais e industriais, o cânhamo se apresenta como uma das alternativas mais sustentáveis ao setor têxtil brasileiro.
Medir a sustentabilidade no que tange à produção para o setor têxtil envolve três principais fatores: o consumo de água, o consumo de energia e a utilização de agrotóxicos (para as fibras naturais) nocivos à terra e aos consumidores. Além desses também incluem a biodegradabilidade, o descarte de recursos, entre outros. (KLITZKE, 2019).
O cânhamo mostrou-se mais sustentável em relação a todos esses fatores analisados em comparação com as fibras utilizadas em larga escala atualmente. Em relação ao consumo de água utilizada, 1 Kg de fibras de cânhamo é responsável pela utilização de 2041 a 3401 litros de água comparativamente ao algodão que requer entre 9788 a 9965 litros de água (CHERRETT et al., s.d.). Dessa forma, o cânhamo requer cerca de três vezes menos a quantidade de água para produzir 1 Kg de fibra em comparação ao algodão.
Ademais, de acordo com dados do Banco Mundial, a produção de têxteis é responsável por mais de 20% da poluição da água em escala global, sendo o Brasil o quinto maior produtor de algodão do mundo.
A análise do consumo energético é ainda mais favorável ao cânhamo em comparação às fibras de algodão e às fibras sintéticas derivadas de petróleo. Vale ressaltar que, com o desenvolvimento de novas tecnologias, o processo de extração e formação das fibras de cânhamo irá sofrer uma redução na utilização de energia. (DUQUE SCHUMACHER et al., 2020).
Para a produção da fibra de algodão, é necessária uma maior percentagem de energia nas suas atividades agrícolas, devido, essencialmente, ao uso de fertilizantes, herbicidas e sistemas de irrigação. Estima-se que 50% de todos os pesticidas aplicados em países em desenvolvimento sejam para o cultivo de algodão (LA ROSA & GRAMMATIKOS, 2019)
Quanto à dependência de agrotóxicos, o cânhamo requer pouco ou nenhum em sua produção, é altamente resistente a pragas e requer apenas algum controlável cuidado com fertilização (SCHLUTTENHOFER, YUAN 2017).
Por outro lado: “As plantações de algodão convencional são responsáveis pelo consumo de cerca de 25% da produção de agrotóxicos do mundo”, diz Dalfran Gonçalves Vale, técnico da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), consumindo em torno de 250g de químicos para produzir uma camisa de algodão. Vale ressaltar que o modo de produção atual do algodão, com alta dependência de pesticidas contribui para a perda da qualidade produtiva do solo.
O The Agricola Group do Canadá forneceu em 2008 um relatório sobre o cânhamo industrial onde enfatiza que o cânhamo, quando cultivado em práticas sustentáveis, produz plantas mais altas, de fibra mais longa, resistente e brilhante que o algodão orgânico – uma tendência entre as fibras naturais. Além de ser altamente absorvente, anti bactericida e resistente a mofos, pois gera uma fibra respirável (KLITZKE, 2019).
Esse conjunto de informações evidenciam em termos de sustentabilidade de produção a superioridade do cânhamo quando comparado com o algodão. Além disso, vale também ressaltar aspectos relacionados à qualidade da própria fibra em si. Essas características vão desde sua grande resistência a tensão, qualidade no produto que vão desde fibras mais simples até a produção de tecidos mais finos. De modo geral, o cânhamo apresenta-se como uma grande alternativa viável para matéria prima para indústria têxtil.
Para saber mais sobre as possibilidades para o cultivo de cânhamo industrial no território nacional, não deixe de adquirir o relatório CANNABIS MEDICINAL E INDUSTRIAL NO BRASIL: potencial para cultivo, produzido pela ADWA Cannabis.
REFERÊNCIAS
BROOK, George et al. National Industrial Hemp Strategy. Canada: The Agricola Group, 2008. Consultoria para Manitoba Agriculture, Food and Rural Initiative Agriculture e Agri-Food Canada.
CHERRETT, N., Barrett, J., Clemett, A., Chadwick, M., & Chadwick, M. (s.d.). Ecological Footprint and Water Analysis of Cotton, Hemp and Polyester.
DUQUE SCHUMACHER, A. G., Pequito, S., & Pazour, J. (2020). Industrial hemp fiber: A sustainable and economical alternative to cotton. Journal of Cleaner Production, 268. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2020.122180.
FLETCHER, Kate; GROSE, Lynda. Moda & Sustentabilidade: Design Para Mudança. São Paulo: Editora Senac, 2011.
KLITZKE, Jéssica.Mercado de Cânhamo: Um estudo acerca do potencial mercadológico alinhado ao desenvolvimento sustentável para aplicações da fibra de cânhamo industrial. Universidade Federal de Santa Catarina, 2019.
LA ROSA, A. D., & Grammatikos, S. A. (2019). Comparative life cycle assessment of cotton and other natural fibers for textile applications. Fibers, 7(12). https://doi.org/10.3390/FIB7120101
PIOVEZANI BERTOLUCCI, N., Xavier Santos, A., & De, L. (s.d.). Cânhamo, uma fibra têxtil que está aliada ao desenvolvimento sustentável na moda.
ROCHA, Sérgio Barbosa Ferreira. Potencial Brasileiro para o cultivo de Cannabis Sativa L. para uso medicinal e industrial. Programa de Pós-graduação em Fitotecnia (Genética e Melhoramento de Plantas). Viçosa: UFV, 2019.
SCHLUTTENHOFER, Craig; YUAN, Ling. Challenges towards Revitalizing Hemp: A Multifaceted Crop. [s.l]. Editorial Trends in Plant Science vol 22, n 11: Elsevier, 2017.