Palavras-chave: insetos, interações, relações, pragas, polinizadores, parasitóides.
Toda espécie de planta, seja ela nativa ou exótica, domesticada ou não, possui uma gama de relações com o meio ambiente em que está inserida. Dentro dessa rede de interações, uma das consideradas de maior relevância é a interação das plantas com os insetos.
A Cannabis sativa é uma espécie milenar e que vem sendo cultivada pelo ser humano há mais de 10.000 anos. Inevitavelmente, durante esse período, foi selecionado um complexo sistema de interações que a cannabis possui com os insetos. Esse sistema, assim como na maioria das plantas cultivadas, é em grande parte derivado do processo de domesticação dessas espécies, em que certas cadeias tróficas foram favorecidas em um sistema antropizado quando comparado ao ambiente natural.
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As interações inseto-planta são variadas, mas, apesar de cada uma possuir sua importância, em termos agronômicos algumas se destacam. Atualmente, a relação mais estudada pela ciência agrícola é a dos conhecidos insetos-praga. Na cannabis, estima-se que existam aproximadamente 300 insetos praga, porém a maior parte não chega a causar danos econômicos significativos. Isso ocorre por conta da rusticidade da planta e sua maior tolerância ao ataque desses insetos, característica essa derivada dos compostos e óleos essenciais presentes na planta, principalmente os terpenos.
Dentre os principais insetos-praga da cannabis, se encontram os picadores-sugadores. Acredita-se que, pelo fato de apresentarem esse formato de aparelho bucal, esses insetos consigam evitar a principal defesa da planta, os compostos com propriedades inseticidas presentes nos tricomas da superfície das folhas. Cigarrinhas (Zygina pallidifrons), pulgões (Phorodon cannabis; Phorodon humuli), mosca-branca (Trialeurodes vaporariorum; Bemisia tabaci), cochonilhas (Pseudococcus longispinus) e tripes (Heliothrips haemorrhoidalis) são reconhecidos como insetos praga da cannabis, possuindo grande importância, principalmente em cultivos indoor.
Dentre os insetos com aparelho bucal mastigador estão as brocas (Grapholita delineana – broca do cânhamo), comumente associadas ao ataque de fungos por conta da abertura de ferimentos que favorecem a contaminação por microrganismos, e as lagartas desfolhadoras, que geralmente causam problemas no período de implantação do cultivo, quando as plantas ainda são jovens. Outras pragas identificadas na cannabis são os insetos minadores e formigas, cupins, grilos, gafanhotos, percevejos e larvas de diversos insetos, como besouros e moscas, que podem afetar desde as flores até as raízes.
Apesar das pragas serem mais amplamente estudadas atualmente, existem também interações inseto-planta benéficas. A polinização é uma dessas relações e desempenha importante papel, tanto para as plantas, quanto para as espécies polinizadoras. Na cannabis, as abelhas possuem sua importância como agentes de polinização, sendo vasta a quantidade de espécies observadas em cultivos de cannabis, principalmente fora da época de floração da maioria das plantas.
Outro tipo de interação benéfica seriam os insetos inimigos naturais de pragas. Insetos predadores e parasitóides possuem grande importância no controle biológico de pragas nos agroecossistemas, como é o caso das joaninhas e louva-deus. Vale destacar que a adoção de manejos que favoreçam a população de inimigos naturais em um cultivo pode ser uma alternativa de controle de pragas e ajuda na redução do controle-químico. Essas estratégias são de suma importância, principalmente para o cultivo com fins medicinais, para evitar moléculas contaminantes nos extratos, garantindo assim sua qualidade e segurança de uso.
É importante considerar que a Cannabis sativa é uma planta difundida por todo o mundo, ou seja, em cada localidade ela irá apresentar interações distintas com as diferentes espécies de insetos presentes no ambiente em que está inserida. Dessa forma, a importância de cada inseto dentro dos cultivos de cannabis depende do contexto em que esse cultivo está inserido (país, região, clima, tipo de cultivo, etc) e, como consequência disso, a forma como cada relação será encarada também deve estar adequada a essas condições, seja pelo favorecimento de interações benéficas ou pelo manejo integrado dos insetos pragas.
Referências:
McPartland, J.M. 1996. Cannabis pests. Journal of the International Hemp Association 3(2): 49, 52-55.
Quarles, W. IPM for Cannabis Pests. The IPM Practitioner. v. XXXVI (5/6). August, 2018.
