Entrevista com prof. Derly José Henriques da Silva – Universidade Federal de Viçosa

Entrevista Prof. Derly José Henriques da Silva

Diretor da Editora UFV, Ex-Chefe do Departamento de Fitotecnia, professor titular do Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa, 20 de fevereiro de 2019.

 

Como surgiu o seu interesse em trabalhar com pesquisas sobre Cannabis?

Na verdade esse interesse por diversas vezes já esteve na baila aqui no Departamento de Fitotecnia. A planta Cannabis sativa e todas a suas variantes, apresenta uma série de possibilidades, mas o que de fato nos motivou foi a possibilidade de trabalhar com produtos de interesse medicinal, foi trabalhar na área ligada a dor, na área ligada a desenvolvimento neurológico, enfim, o que nós queremos é disponibilizar uma planta para ajudar pessoas.

Não resta  a menor dúvida que nós temos, em Cannabis, também o viés industrial, especialmente com plantas que produzem fibras. Esse é um grande interesse nosso, mas eu gostaria de deixar bastante claro que o nosso interesse é trabalhar com Cannabis para uso medicinal.

Qual a importância da pesquisa agronômica em relação aos diversos usos benéficos que podem ser feitos da Cannabis? Onde estas pesquisas se aplicam?

Essa é uma pergunta bastante interessante porque via de regra as pessoas que não são da área entendem o seguinte: eu estou plantando, eu estou cultivando e em qualquer lugar onde eu colha aquela planta será sempre a mesma planta. E isso não é verdade. A planta ela tem como o seu produto final sempre o resultado de uma interação muito complexa, solo, planta atmosfera. Então em cada local você vai ter variantes em termos de composição química, composição bioquímica de uma planta. Então o nosso grande interesse é fazer uma pesquisa de tal forma que a gente consiga recomendar os melhores cultivares para serem cultivados nos locais mais indicados, de tal forma que a gente consiga atingir o nosso público.

O DFT pretende trabalhar com quais linhas de pesquisa sobre Cannabis?

Como eu disse pra você o nosso foco maior vai ser na parte medicinal. Trabalhar com canabinóides que tenham interferência na qualidade de vida humana. Não resta a menor dúvida que como subproduto de um programa de melhoramento nós podemos ter plantas muito produtivas sem estes canabinóides mas que sejam fontes de fibra. E aí neste caso nós poderemos recomendá-las para a indústria. Mas então o nosso foco principal é medicinal e em segundo lugar industrial, especialmente na produção de fibras.

Quais as maiores dificuldades para se trabalhar com o tema atualmente?

Na verdade a grande dificuldade que nós temos é a parte de liberação legal.  Já há todo o aporte por parte de leis, mas o Brasil ainda não fez a instrumentalização. Então nós não sabemos exatamente como podemos cultivar, quais os cuidados que nós temos que tomar, quais as medidas que vão garantir um cultivo e um estudo seguro segundo as leis brasileiras. Então esse para nós hoje é o grande gargalo. O Brasil tem um clima extremamente viável. Nós temos uma população que é extremamente carente destas informações e destes produtos, é um grande mercado, mas nós precisamos de saber claramente as condições de segurança para o cultivo.

Como o assunto foi recebido pelo DFT e pela comunidade acadêmica?

Sérgio isso é uma coisa que me chamou muita atenção. Eu na verdade fui assitir o seu seminário a respeito de Cannabis. Subi muito motivado. Voltei para minha sala muito motivado e em seguida recebi o convite para ser coordenador de um simpósio a respeito de Cannabis. Oficializei isto para o Departamento e não tive nenhum comentário menos digno. Todos entenderam prontamente o que faríamos e se nós estávamos manifestando interesse era algo sério, algo necessário e que iríamos tratar segundo as leis brasileiras. Então foi até curioso, eu diria que eu esperava brincadeiras, comentários, eu esperava isso. Mas nem isso eu tive. “Ah você vai trabalhar com Cannabis?! Ah que bom, meus parabéns”, “Ah que bom! Você vai enfrentar um desafio”, “Sucesso, força pra você! Que você consiga!”. Foram as informações que eu tive. Então o Departamento de Fitotecnia se mostrou mais aberto do que eu esperava.

A Cannabis pode se tornar realmente uma cultura agrícola de grande importância econômica para o Brasil?

Claro, com certeza. Como eu disse, nós temos a possibilidade, a grande possibilidade, do uso medicinal, nós temos a possibilidade do uso industrial. E além disso, Cannabis ela é uma planta C3, é uma planta de raiz pivotante, ela é adaptada ao clima dos trópicos, que é o nosso caso. E ela ainda tem uma coisa muito interessante: ela é muito tolerante a falta d’água ou água com restrição. Então isto ela vai possivelmente ser uma nova commodity para o Brasil. E o Brasil poderá certamente vir a ser um grande produtor de Cannabis, não só para o consumo interno mas também externo.

Quais as implicações da introdução, oficial, dos cultivos destas plantas no país?

Bem, sendo uma planta de cultivo, uma commodity, nós não temos na verdade grandes impactos em termos de área vegetada. Porque? Hoje nós ocupamos com agricultura aproximadamente 7% do território nacional. Então Cannabis, ela na verdade, uma vez sendo liberada, ela vai entrar neste mesmo espaço. Provavelmente ela vai deslocar algumas outras plantas que não apresentam a mesma rentabilidade. OU a mesma possibilidade de cultivo. Mas eu não espero uma vez que tenhamos a liberação oficial que Cannabis entre em áreas que hoje estão ocupadas por florestas, áreas de preservação ambiental. De forma alguma eu espero isso. Até porque mesmo dentre os 7% que nós hoje utilizamos no Brasil, tem muitas áreas sendo subutilizadas. E a Cannabis então pode entrar como uma planta de entressafra, como uma outra possibilidade de cultivo.

O processo de regulamentação do uso da Cannabis para diversos fins já é uma realidade em um grande número de países e tudo indica que no Brasil, embora de maneira mais gradual, ele também vá ocorrer. Na sua opinião quais as precauções e cuidados devem ser tomados em relação a este processo no país?

Olha, o principal cuidado que deve ser tomado é com relação aos usos que não estejam prontamente discriminados. Então com certeza para que a gente possa fazer o cultivo  de uma planta como essa, nós vamos ter que ter cuidados que envolvem acessos de pessoas, pessoas treinadas para esse fins, incineração de plantas que não estejam no padrão. Isso tudo vai ter que ser muito bem regulamentado para que a gente não perca o controle e esta planta não seja utilizada de forma irresponsável.

Atualmente quais são as propostas do DFT em andamento?

Olha isso é uma pergunta até bastante interessante. Ainda hoje eu estava, enquanto chefe do departamento, defendendo a possibilidade, ou na verdade a realidade, do departamento de explorar biocombustíveis. O Departamento de Fitotecnia trabalha sim com todas as culturas que são de interesse para o sul e sudeste do Brasil. Trabalhamos com plantas produtoras de biodiesel, somos muito fortes na área de produção de cana de açúcar e a cannabis ela entrará neste leque também abrindo possibilidades naquilo que nós poderíamos chamar de plantas medicinais.

Quais as suas expectativas em relação a pesquisa com Cannabis no Brasil para os próximos anos?

Na verdade os números são enormes. A possibilidade de negócio “Cannabis Brasil” ele ultrapassa a casa dos bilhões. Então de fato nós temos uma grande expectativa. Mas eu digo até pra você Sérgio que o meu grande interesse não é propriamente o dinheiro. O meu grande interesse é levar um alento, é levar um socorro, levar uma qualidade de vida para pessoas que sofrem enormemente com problemas de dor, com disfunção neurológica, com epilepsia que não pode ser tratada. Eu espero na verdade  é contribuir com a qualidade de vida do brasileiro. Essa seria a minha grande felicidade se nós chegássemos com um produto de qualidade e cultivado no Brasil para ofertar aos nosso concidadãos que sofrem com tantos dramas.

O Brasil possui qualificação para se tornar competitivo neste mercado?

Completamente. Nós temos áreas imensas, na verdade nós sabemos inclusive, e é de conhecimento geral, o chamado polígono da maconha, que é uma região imensa, imensa, que, ainda que cultivado fora das determinações legais, mas do ponto de vista agronômico atinge muito sucesso. Produz enormemente. Então quando nós fazemos o zoneamento agroclimático da Cannabis, a gente observa que grande parte do território nacional pode ser plenamente cultivado e produzir um produto com a qualidade espetacular.  Então eu tenho certeza que em pouquíssimo tempo nós utilizaremos áreas hoje subutilizadas, nós vamos inserir novos agricultores. Em verdade nós queremos fomentar o mundo agrícola e levar qualidade de vida para o nosso consumidor. E creio com muita certeza que faremos isso.

Com base na sua experiência profissional, você daria algum conselho para o novos pesquisadores que desejem iniciar a carreira neste mercado inovador e promissor?

Com certeza.  O problema maior que eu falo para os novos pesquisadores é que normalmente nós somos muito afoitos. E infelizmente a regulamentação legal ela anda numa velocidade  as vezes independente da nossa vontade. Mas hoje o Departamento de Fitotecnia como pertencente a Universidade Federal de Viçosa busca então abrir esse caminho, não só para nós, mas também para outras instituições. Uma vez que a anvisa faça essa regulamentação, essa regulamentação vai servir para todos. E o que nós queremos é que todas as pessoas que tenham interesse sério, que possam trabalhar que possam produzir, para que em pouquíssimo tempo a gente possa ofertar bons tanto no mercado de melhoramento, no mercado de agricultura bons produtos para melhorar a qualidade de vida do brasileiro.

Em 2018 e 2019 o DFT coordenou a organização do Cannabis Colloquium: Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia. O evento foi considerado um sucesso e foi um marco para o tema da pesquisa científica com Cannabis na Universidade Federal de Viçosa. O DFT pretende apoiar as próximas edições do evento?

Com certeza. Na verdade o Cannabis Colloquium já entrou no caderno de eventos do Departamento de Fitotecnia. Nós temos a plena certeza que de fato foi um sucesso. Nós não tivemos nenhum tipo de transtorno, nada saiu fora da regra. Tivemos uma discussão muito sério, profunda. Descontraída em alguns momentos, mas em momento nenhum nós tivemos qualquer início de desordem. E muito pelo contrário. Nós observamos um grande público interessado e nós hoje podemos afiançar que certamente para que possa ser efetivado o III Cannabis Colloquium.

Prof. Derly eu gostaria de agradecer mais uma vez a oportunidade e contamos com o seu apoio.

Um grande abraço Sérgio e estamos juntos!

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