Explorando o Potencial da Cannabis sativa como Planta de Cobertura do Solo em Sistemas Agrícolas

Palavras-chave: planta de cobertura, saúde do solo, agricultura sustentável, Cannabis sativa, controle de daninhas

A Cannabis sativa, uma planta muitas vezes associada a usos medicinais, recreativos e industriais para fibras e grãos, também possui um potencial significativo como planta de cobertura de solo em sistemas de produção agrícola. Ao explorar essa aplicação menos convencional, os agricultores podem colher uma série de benefícios que contribuem para a saúde do solo, a sustentabilidade ambiental e o sucesso da operação agrícola.

Neste texto, será abordado o potencial do uso da Cannabis como planta de cobertura, seus promissores resultados para melhoria do solo e controle de plantas daninhas. Essa recomendação visa alcançar uma agricultura sustentável e diversificada, que usa o máximo de seu portfólio para solucionar os desafios do campo de maneira segura e ética.

Uma das vantagens mais proeminentes da utilização dessa cultura como planta de cobertura de solo é o seu sistema radicular vigoroso. As raízes pivotantes profundas e densas da Cannabis ajudam a melhorar a estrutura do solo, quebrando a compactação e aumentando a porosidade. Isso, por sua vez, melhora a infiltração de água e nutrientes, reduzindo a erosão, lixiviação e aumentando a disponibilidade de água e matéria orgânica em estoque no solo para as outras culturas em esquema de consorciação e rotação (VISKOVI´C et al., 2023).

A cannabis também tem a capacidade de capturar carbono atmosférico devido à sua rápida taxa de crescimento e alta biomassa, contribuindo além de tudo, para a mitigação das mudanças climáticas. Outro benefício notável associado à essa captura de carbono, é a capacidade da Cannabis de aumentar a matéria orgânica do solo à medida que se decompõe. Isso enriquece o solo, condicionando-o, desenvolvendo estruturação e agregados, adequando o pH, neutralizando alumínio tóxico – tão comum em nossos solos tropicais, fornecendo nutrientes essenciais para o crescimento das culturas subsequentes e promovendo a atividade microbiana benéfica. Além disso, a decomposição da cobertura morta ao longo do tempo contribui para a formação de húmus, melhorando ainda mais o solo, sua rizosfera, biosfera e sua capacidade de ciclagem de nutrientes e água (ADESINA et al., 2020)

Outro benefício, é a capacidade da Cannabis de suprimir o crescimento de plantas invasoras. Seu ciclo curto e cobertura densa do solo em muitas variedades, competem com as ervas daninhas, reduzindo a necessidade de herbicidas e minimizando o impacto ambiental associado a esses produtos químicos. Além disso, também possui propriedades bioquímicas que podem contribuir para a saúde do solo. Por exemplo, ela é conhecida por produzir compostos que têm efeitos alelopáticos, inibindo o crescimento de patógenos do solo e promovendo um ambiente mais saudável para as culturas subsequentes, aumentando a diversidade e quantidade da microbiota saudável, como demonstrado por (Tang et al., 2022).

A Cannabis sativa produz uma variedade de compostos químicos, incluindo terpenos e canabinóides, que têm potencial alelopático. Essas substâncias podem inibir o crescimento de plantas concorrentes. A utilização da cannabis como planta de cobertura do solo pode, portanto, ajudar a suprimir o crescimento de plantas invasoras, promovendo ao mesmo tempo o crescimento saudável da cultura principal. Isso seria feito da melhor forma, segundo experimento feitos por (SHIKANAI et al., 2022), quando a palhada da Cannabis fosse deixada sobre o solo, e não incorporada, o que se adequa aos sistemas de plantios diretos atuais, que necessita de palhada protetora para alcançar seus máximos benefícios.  

Tais demonstrações, foram inferidas também de um ensaio realizado por (PUDEŁKO et al., 2014), no qual obteve resultados promissores com diluições de extrato de Cannabis sativa em contato com sementes de plantas monocotiledôneas e também dicotiledôneas. De maneira geral, o que se observou foi diminuição da capacidade de germinação das sementes e vigor das plântulas de ambos os dois grupos em contato com extratos de parte aérea de plantas de Cannabis, evidenciando o potencial que a palhada pode exercer sobre o banco de semente de plantas daninhas após intensa exsudação de seus fitocanabinoides e terpenos subsequente o tombamento, ou mesmo em seguida a uma chuva que dilua eles do material vegetal e deixe na solução do solo. 

Há também de se destacar que não se sabe ao certo qual dos compostos foi o responsável pelos efeitos alelopáticos, ou então se foi a sinergia entre eles, sugerindo a necessidade de novos estudos para melhores conclusões. Com esses novos conhecimentos, seria por exemplo, possível a obtenção de materiais genéticos específicos, que darão origem a cultivares capazes de conter os compostos certos e em proporções corretas que resultam nos melhores efeitos de controle das daninhas previamente alvejadas. 

Em suma, a utilização da Cannabis como planta de cobertura de solo oferece uma série de benefícios para os agricultores que buscam práticas agrícolas mais sustentáveis e resilientes. Seu sistema radicular vigoroso, capacidade de suprimir ervas daninhas e efeitos alelopáticos, contribuição para a matéria orgânica do solo e propriedades bioquímicas são apenas algumas das maneiras pelas quais essa planta versátil pode melhorar a saúde do solo e o sucesso geral da produção agrícola.

Mas não só isso, há também outras possibilidades de ser utilizada como cobertura de solo, para além dos benefícios já citados, sendo destinada para a colheita de grãos para alimentação, desde que deixada a palhada no campo. Ou mesmo sendo plantada com finalidade de se colher a parte aérea inteira, para obtenção de fibras ou de flores com fitocanabinóides, já que o ciclo da planta no campo e seu sistema radicular deixado no solo já teria exercido importantes papéis acima citados. Tudo depende dos objetivos do produtor agrícola, o importante é que a Cannabis é uma cultura versátil, que tem demonstrado potencial para solucionar e capitalizar diversos desafios do agricultor em um cenário em que o campo é cada vez mais dinâmico. 

Referências:

Visković, J.; Zheljazkov, V.D.; Sikora, V.; Noller, J.; Latković, D.; Ocamb, C.M.; Koren, A. Industrial Hemp (Cannabis sativa L.) Agronomy and Utilization: A Review. Agronomy 2023, 13, 931

 

Adesina, I.; Bhowmik, A.; Sharma, H.; Shahbazi, A. A Review on the Current State of Knowledge of Growing Conditions, Agronomic Soil Health Practices and Utilities of Hemp in the United States. Agriculture 2020, 10, 129. 

 

Tang, L.; Fan, C.; Yuan, H.; Wu, G.; Sun, J.; Zhang, S. The Effect of Rotational Cropping of Industrial Hemp (Cannabis sativa L.) on Rhizosphere Soil Microbial Communities. Agronomy 2022, 12, 2293.

 

Shikanai Avery, Gage Karla L. Allelopathic Potential of Hemp: Implications for Integrated Weed Management. Frontiers in Agronomy 2022, v. 4.

Krzysztof Pudełko, Leszek Majchrzak, Dorota Narożna, Allelopathic effect of fibre hemp (Cannabis sativa L.) on monocot and dicot plant species, Industrial Crops and Products, 2014, v. 56, 191-199.

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