Palavras-chave: extratos; óleos essenciais; Cannabis; Cannabis sativa; pesticidas; sustentável; toxicidade
O cenário climático e econômico passa pela busca de respostas em torno das diversas problemáticas socioambientais atuais. Nos últimos anos, o uso intensivo de pesticidas químicos para controlar insetos e pragas em culturas agrícolas levou ao desenvolvimento de organismos alvo com maior resistência a estes produtos, além de contaminar o meio ambiente pela persistência destes no solo, cursos d’água e plantas. Neste cenário, o desenvolvimento e a utilização de extratos vegetais e óleos essenciais (OE) são uma alternativa sustentável para diminuir a dependência aos pesticidas químicos, pois apresentam uma diversidade de fitoquímicos que podem atuar no controle de pragas agrícolas. Estes compostos, na maioria das vezes, representam um baixo risco de toxicidade para organismos benéficos como insetos polinizadores, parasitóides, predadores e também mamíferos.
A Cannabis (Cannabis sativa) é uma planta amplamente utilizada como matéria prima de diferentes produtos alimentícios, farmacêuticos e têxteis. Na saúde humana, o foco tem sido no estudo dos efeitos de fitocanabinóides como por exemplo o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). Neste contexto, é crescente o interesse pela planta como um potencial inseticida botânico (bioinseticida) devido aos compostos metabólicos presentes nas glândulas (tricomas) concentradas nas folhas e principalmente nas inflorescências da Cannabis. Estudos demonstram que terpenoides (limoneno, linalol e pineno) e compostos fenólicos, por exemplo, presentes nas plantas possuem ação inseticida e repelente, o que torna a Cannabis uma opção promissora para o controle de pragas agrícolas de maneira sustentável.
Terpenóides referem-se a substâncias naturalmente produzidas pelo metabolismo secundário das plantas, o que inclui uma classe de hidrocarbonetos de terpenos e seus derivados oxigenados. Estas substâncias são bem estudadas como inseticidas, como a azadiractina e piretrinas. A Cannabis biosintetiza cerca de 140 terpenóides, em sua maioria monoterpenoides e sesquiterpenoides. Destes, o limoneno, linalol e pineno, são comercializados como inseticidas. Além disso, os compostos fenólicos presentes na Cannabis, como flavonóides (cannaflavina), cannabispiradienona, polifenóis (cannabispirona) demonstraram repelência a insetos.
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Os óleos essenciais de Cannabis são extraídos principalmente por destilação a vapor e hidrodestilação, respectivamente. No primeiro processo, ocorre a passagem de vapor através de um leito de material vegetal em sistema fechado. Assim, os compostos voláteis são carregados no vapor, condensados e depois separados. Já no processo de hidrodestilação, o material vegetal é imerso em água e depois fervido – os compostos voláteis são levados pelo vapor contendo água e óleo, condensados e depois separados. Segundo (AHMED et al., 2020), o efeito do OE de Cannabis foi avaliado contra Myzus persicae (Hemiptera), Culex quinquesfasciatus (Diptera), Spodoptera littoralis (Lepidoptera) e mosca doméstica (Diptera). Os resultados indicaram que o óleo essencial apresentou alta toxicidade contra M. persicae e mosca doméstica, e moderada toxicidade contra larvas de S. littoralis.
Os fitocanabinóides podem ser extraídos utilizando solventes apolares (ex.: CO2 supercrítico, clorofórmio, hexano) ou solventes polares (metanol, etanol, butanol). A extração pode ser realizada por aquecimento (extrator Soxhlet), temperatura ambiente ou temperaturas baixas (ex.: extração exaustiva, de – 40 à – 80 graus celsius). De acordo com (PRVULOVIĆ et al., 2023), a utilização de extrato de cânhamo (Concentrações de 1% e 2%) demonstrou repelência média para larvas de P. interpunctella. Na concentração de 2%, houve 42,5% de mortalidade larval após 72 h.
O potencial uso da Cannabis como bioinseticida representa uma alternativa promissora e sustentável para reduzir os impactos negativos de pesticidas químicos no ecossistema, principalmente naqueles inseridos em sistemas agrícolas. Tanto os extratos quanto os óleos essenciais de Cannabis oferecem alternativas seguras no controle de pragas. Portanto, é necessário que mais estudos sejam realizados a fim de avaliar a eficácia e a segurança destes instrumentos, além de entender a composição destes e como estes compostos interagem com organismos vivos.
Referências
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BEDINI, Stefano et al. Cannabis sativa and Humulus lupulus essential oils as novel control tools against the invasive mosquito Aedes albopictus and fresh water snail Physella acuta. Industrial Crops and Products, v. 85, p. 318-323, 2016.
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PRVULOVIĆ, Dejan et al. Phytotoxic and Insecticidal Activity of Industrial Hemp (Cannabis sativa L.) Extracts against Plodia interpunctella Hübner—A Potential Sunflower Grain Protectant. Agronomy, v. 13, n. 10, p. 2456, 2023.
