Palavras-chave: Cannabis,sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, meio ambiente, práticas ecológicas, exploração, conservação, recurso natural renovável.
A história da relação entre a humanidade e o meio ambiente sempre foi complexa. A intensa exploração dos recursos do nosso planeta ao longo do tempo é um dos principais fatores responsáveis pelo atual cenário de alerta ambiental vivenciado pelo mundo. Dessa forma, nos últimos anos o tema sustentabilidade tem ganhado cada vez mais notoriedade e tem sido aliado ao desenvolvimento de diversas condutas de menor impacto ambiental, objetivando quebrar esse padrão de exploração sem consciência e promover a conservação do meio ambiente.
Dentro da agricultura, práticas como o preparo conservacionista do solo e da água, a substituição de insumos químicos por orgânicos, a redução ou até mesmo supressão do uso de pesticidas e herbicidas através de práticas de manejo integrado, rotação e consorciação de culturas, entre diversas outras, são exemplos de técnicas que tornam possível a consolidação de uma unidade agrícola ambiental e economicamente mais eficiente. Mas onde a cannabis entra nessa história? Como o seu uso pode contribuir para a sustentabilidade?
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Para começar, a cannabis é uma planta bastante conhecida pela sua versatilidade de usos. Pode ser utilizada na produção de fibras, óleo, sementes, tecidos, papel, cosméticos e outros. Ainda, há seu aproveitamento na alimentação e medicina humana e animal, o que favorece sua aplicação em diversos ramos inovadores do mercado ou em adequação voltadas à sustentabilidade. Um exemplo atraente é a possibilidade do uso da cannabis como um opção a mais ao algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) na produção de fibra.
Em âmbito nacional, o cultivo do algodoeiro é mais consolidado, porém muito dependente de sua elevada necessidade hídrica, insumos agrícolas e de agroquímicos do pacote tecnológico para o controle de pragas e doenças amplamente distribuídas em todo território. Já no cultivo da cannabis, devido a maior rusticidade da planta, além das exigências de insumos e agroquímicos serem menores, o consumo de água pode ser até 3 vezes menor do que no algodão, obtendo uma produção até 5 vezes maior em quantidade de matéria seca.
Além disso, o menor gasto energético, a maior capacidade de sequestro de carbono e as maiores produtividades médias da cannabis em relação ao algodão levam a um menor impacto ambiental. Sendo assim, possibilita menor pegada de carbono e menores custos de produção, o que torna viável o uso alternativo da cannabis na produção de fibra.
Assim como na produção de fibra, com o desenvolvimento da indústria, diversas outras funcionalidades da cannabis têm se destacado. O uso para produção de bioplásticos, por exemplo, já é uma realidade. Visto que o consumo de plásticos na sociedade se tornou um problema devido ao seu grande volume e, principalmente, ao seu descarte inadequado, a produção de bioplásticos se tornou uma alternativa para reduzir a poluição ambiental causada por resíduos provenientes do petróleo. O uso da fibra e do caule do cânhamo na substituição de produtos à base de plástico resulta em um material não tóxico e 100% biodegradável. Dessa forma, a cannabis se demonstra como uma alternativa ecológica promissora nesse setor do mercado.
Outra possível substituição com cânhamo na indústria é a produção de concreto para a construção civil. A partir do processamento da mistura da parte interna do caule da planta com cal e água é possível a fabricação do hempcret, um concreto biocomposto utilizável na construção de pisos, paredes e tetos. O hempcrete é um material que proporciona boa acústica, conforto térmico e controle de umidade e, além de ser resistente ao fogo, mofo e pragas, possui boa durabilidade, resistência, design flexível, baixa densidade e não é tóxico, características desejáveis na construção de edificações. Entretanto, os principais pontos na utilização do hempcrete são a maior facilidade na reciclagem do material e a sua emissão de carbono negativa, uma vez que a absorção de carbono durante o crescimento do cânhamo em campo compensa as emissões durante o seu processamento. Enfim, este concreto biocomposto é capaz de armazenar CO2 na edificação, fazendo com que ela se torne mais resistente ao longo do tempo. Segundo estudos realizados, 1m³ de cânhamo pode aprisionar até 108 kg de CO2 retirados da atmosfera (SANTOS,2013).
Passando para a indústria energética, o uso intenso de combustíveis fósseis têm agravado as emissões de poluentes na atmosfera e consequentemente a crise ambiental. O uso de fontes naturais de energia, como a cana-de-açúcar, a beterraba e o milho têm se mostrado alternativas aos combustíveis tradicionais. Para esse segmento o cânhamo apresenta potencial de uso na fabricação de bioetanol, biodiesel, biogás e também como um combustível sólido, com produção média algumas vezes maior do que as culturas comumente utilizadas nesse segmento. Outro fator é sua capacidade térmica ser maior em relação ao uso da madeira e ligeiramente menor que a do carvão. Esses fatores indicam que o uso da cannabis na indústria energética, além de sustentável, também tem alta eficiência.
Na área de usos ambientais, a cannabis tem potencial identificado para recuperação de áreas degradadas, um problema recorrente na atualidade pelo manejo inadequado do solo. Um desses potenciais ecológicos é a sua utilização na fitorremediação. A cannabis é uma planta com capacidade de extrair do solo compostos tóxicos como os metais pesados chumbo (Pb), zinco (Zn), cádmio (Cd), níquel (Ni), cobre (Cu) e cromo (Cr), armazená-los em sua biomassa e auxiliar na regeneração de áreas contaminadas.
Outra forma de utilização no solo é como agente descompactador devido a capacidade do seu sistema radicular atingir grandes profundidades, dependendo do tempo disposto para o crescimento. À medida que se aprofunda, o diâmetro das raízes aumenta, o que reflete em uma maior capacidade da planta de se desenvolver em solos mais compactados, além de favorecer a cobertura vegetal, evitando a exposição do solo às intempéries climáticas, auxiliando na reposição de matéria orgânica no sistema e melhorando a retenção da umidade.
Em termos de biodiversidade, apesar da cannabis ser uma espécie em que a dispersão do pólen é feita principalmente pelo vento, a atração de polinizadores, principalmente abelhas, nos cultivos de cannabis é expressiva em relação a outros cultivos comerciais. Isso ocorre pela presença das flores, muitas vezes em épocas em que não ocorre floração da maioria das espécies vegetais, que produzem grande quantidade de pólens apreciados por esses insetos. Outro fato, também apreciado pelos polinizadores, se dá pela menor dependência de agroquímicos no cultivo que, além de contaminarem o solo e os cursos de água, afetam diretamente a diversidade de insetos da região onde são aplicados.
Fato é que a cannabis é uma espécie com grande potencial no mercado e na indústria da sustentabilidade. Contudo, assim como em outras plantas cultivadas, independente do destino final, não adianta realizar uma produção desequilibrada, depredando o solo, a água e o meio ambiente em que o cultivo está inserido. A cannabis se demonstra uma grande aliada na conservação ambiental, mas a consolidação de um cultivo ecológico, que foca na redução da contaminação e degradação do agroecossistema, é a base para o desenvolvimento sustentável no nosso planeta.
Para ficar por dentro dos potenciais agrícolas da cannabis, a ADWA disponibiliza um Relatório abordando as características agronômicas e as possibilidades de cultivo dessa planta no Brasil. Adquira o relatório e use-o como base para a produção diferencial e sustentável da cannabis.
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